segunda-feira, 5 de março de 2012

Quando o Independiente derrotou a ditadura.



Quando o Independiente derrotou a ditadura.
No dia de aniversário de Ricardo Bochini, nada melhor do que lembrar um dos mais gloriosos jogos da história do Independiente. No dia 25 de janeiro de 1978 o clube, comandado por Bochini, conquistava mais um título nacional. Para isso precisou vencer o Talleres de Córdoba, a arbitragem, e sobretudo a ditadura militar argentina.
A década de 1970 é a mais gloriosa da história do Independiente. Após o bi da Libertadores em 1964 e 1965, a equipe consolidaria sua fama de “El Rey de Copas” ao vencer quatro edições seguidas do torneio, entre 1972 e 1975, façanha até hoje não alcançada. O Rojo venceu ainda dois títulos nacionais naqueles anos (o Metropolitano de 1970 e o Nacional de 1971), e chegou pela primeira vez ao título mundial interclubes, em 1973.
Naquele mundial despontou aquele que seria o maior ídolo Rojo desde Arsenio Erico: Ricardo “Bocha” Bochini. Talentoso meiocampista, era especialista em deixar os companheiros na cara do gol, embora também marcasse os seus. Seu talento ficou óbvio quando, aos 19 anos de idade, comandou o Independiente na conquista do mundial de 1973, marcando o gol do título sob a Juventus de Turim em pleno estádio Olímpico de Roma.
Em 1977 aquela equipe vencedora não era mais a mesma. A grande maioria dos jogadores não estava mais lá, assim como o lendário técnico Roberto Ferreiro. Mas Bochini continuava no Rojo, assim como o outro grande craque da equipe, Daniel Bertoni. E o treinador José Omar Pastoriza podia contar com outros brilhantes jogadores, como Omar Larrosa, que havia brilhado no grande time do Huracán entre 1973 e 1976.
E no Nacional de 1977 um rejuvenescido Independiente voltou a dar alegrias à sua torcida. Venceu dez das primeiras doze partidas, se classificando com antecipação para a fase final. Na semifinal, suplantou o Estudiantes, para encontrar o Talleres de Córdoba na grande decisão. Na primeira partida, em Avellaneda, prevaleceu o empate em 1 a 1. Tudo seria decidido em Córdoba: o vencedor levaria o título, e em caso de empate levaria a taça quem marcasse mais gols fora de casa (uma inovação para a época).
Mas logo ficou claro que as coisas não se resolveriam apenas no campo de jogo. O comandante militar e governador da província de Córdoba era nada menos do que Luciano Menendez, representante da linha-dura extremista da ditadura argentina. Para os membros dessa corrente, como Menendez e Suarez Mason, militares como Jorge Videla e Emilio Massera (posteriormente condenados à prisão perpétua pelas violações aos direitos humanos cometidas naqueles anos) eram demasiado tolerantes com a oposição. Entre outros feitos, Menendez era o responsável pelo Massacre de Las Palomitas, quando prisioneiros foram executados nas prisões da província de Salta.
E esse homem violentíssimo, vivendo o auge do poder, expressou claramente seu desejo de que o Talleres fosse campeão. No auge da repressão, isso era mais do que o suficiente. E quando as equipes entraram em campo naquele 25 de janeiro de 1978, ninguém sabia o que esperar.
A princípio tudo correu normalmente. As equipes buscavam o gol, e o Independiente virou o primeiro tempo em vantagem, com um gol de cabeça de Outes, o artilheiro máximo do clube no torneio. Mas no segundo tempo as coisas começaram a se complicar quando aos 13 minutos um centro da esquerda bateu no corpo de um defensor do Independiente na lateral da área. O juiz marcou o penal, bastante duvidoso, e convertido por Cherini (que por sinal sequer comemorou o gol tão importante; baixou a cabeça e caminhou de volta para o meio campo).
Aos 25 minutos o jogo se complicou de vez, quando Bocanelli aproveitou um centro e empurrou a bola para o gol com as mãos. O gol, flagrantemente ilegal, foi validado pela arbitragem, colocando os cordobeses em vantagem. No desespero, inconformados com tamanha injustiça, Trossero, Galván e Larrosa (os dois últimos seriam campeões mundiais pela seleção argentina naquele mesmo ano) agrediram verbalmente o árbitro e foram expulsos.
Com três a mais, resultado favorável, arbitragem a favor, e jogando em casa, o Talleres tinha o título nas mãos. Mas não tinha Ricardo Bochini. Aos 41 do segundo tempo Bocha tabelou com seu grande amigo Bertoni (outro campeão mundial pela seleção em 78) e chutou a bola com força no alto da rede adversária.
O Independiente havia arrancado um miraculoso empate que lhe daria o título. Nos minutos finais da partida o Talleres atacou incessantemente, e o goleiro Roganti ainda teve tempo de fazer duas defesas dificílimas. E a bola estava em suas mãos quando o árbitro encerrou a partida.
O Independiente era campeão nacional de 1977, Bocha se consagrava definitivamente como um deus em Avellaneda, e a ditadura argentina sofria uma grande derrota nos gramados. Há exatamente 33 anos, o grande craque que hoje completa seu 57º aniversário se transformava em verdadeira lenda.
Fonte: futebol portenho

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